19.7.10

Sem título (parte II) - ou para Bruno Manzaro

"Moço, não dá pra ir mais rápido?", Débora perguntou pela terceira vez ao taxista. Atrasada. Não podia perder o encontro. Não esse encontro. Não, não podia. Já perdeu as contas de quantas vezes olhou no relógio. E o trânsito não ajuda.
Ela havia passado horas pensando nos detalhes. O que iria usar, o que iria dizer, como iria agir. Ela gosta dos detalhes. E ela gosta de pensar. E mesmo assim, conseguiu se atrasar. Mesmo tendo começado a se arrumar com quase 3 horas de antecedência. Mesmo tendo cronometrado cada minuto que levaria pra chegar, incluindo o tempo perdido no engarrafamento. Ainda assim conseguiu se atrasar. Lei de Murphy.
Seu pessimismo entrou em ação. E se ele não estivesse mais lá? E se ele nem fosse? Calma. Respira. Vai dar tudo certo. Tem que dar. Vai dar. Conta até 10. Melhor contar até mil.
"Moço, não dá pra ir mais rápido?". Só mais três ruas. Coração batendo rápido. Pernas bambas. Porque, vamos encarar os fatos, era uma espécie de encontro às escuras. Tinha tudo pra dar errado.


Mas ele estava lá afinal de contas. Como deveria ser. Um suspiro de alívio. E então uma felicidade instantânea e inesperada tomou conta dela. Como se ela sempre estivesse esperando por ele, durante toda sua vida. E a verdade é que ela estava esperando. Sempre esteve.
De repente, tudo que havia ensaiado, como agir, como falar, como se expressar, tudo isso simplesmente sumiu de sua mente. Tudo o que importava é que ele estava lá. Hesitou por alguns segundos antes de dar os primeiros passos na direção dele. Respirou fundo e foi ao encontro do seu destino.
Bruno estava sentado do outro lado do salão, que nem era muito grande. Aliás, agora que reparou bem, era até bem pequenininho, aconchegante. O ambiente perfeito pra um primeiro encontro. O primeiro de muitos, acrescentou para si mesma. Ele estava sentado olhando pro nada, tão concentrado em seus próprios pensamentos que nem notou a chegada de Débora. Não até que ela estivesse bem perto.
E naquele momento tão esperado, faltaram palavras. Nenhum dos dois conseguiu dizer nada. Bruno se levantou quando a viu do seu lado, com uma cara de quem não estava acreditando no que via. Não, ele não estava. Queria tocá-la, para ver se era mesmo real. Foi o que fez. Abriu seus braços, como quem convida a um abraço. Mesmo sem palavras, Débora entendeu. É óbvio que entendeu.
Ela se arriscaria a dizer que aquele foi o melhor abraço que já recebeu na vida. Um abraço que disse muito mais do que qualquer palavra. Um abraço que dizia "estou aqui. E sou seu". Um abraço de entrega. Aquele abraço que marcava o final feliz de Débora e Bruno.
Ou apenas o começo.

Um comentário:

Bruno Manzaro disse...

Muito bom, gostei. A primeira parte foi muito boa e a segunda deu uma boa sequencia. Bom texto. Valeu pela dedicatória.